quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Perdido no super-mercado

Samuel Longstern tinha ido às compras. Mas, as compras não eram uma actividade simples para Samuel Longstern, era um desafio.
Samuel sofria de OCD, e isso tornava as compras num jogo, num desporto. Em casa lia os anúncios e anotava tudo para depois comparar. Os saldos, a diferença de preços, os preços em diferentes centros comerciais, não conseguia evitra fazê-lo.
As compras não eram só um simples desporto.Era um escape à realidade que Samuel vivia, estar perdido dentro do supermercado, sem ter que pensar em todos os problemas que o afectavam.
Quando comparava os cupões não precisava de pensar na mãe a morrer num hospital com cancro nos pulmões, tornava-se apenas num pacote de chá de baunilha. O pai que morrera no ano passado tornava-se em três vassouras ao preço de uma só, o facto de não ter amigos hoje em dia num simples boião de compota com +20%.
O consumismo e a OCD misturavam-se num supressor de memória que Samuel agradecia, estar ausente do mundo, num lugar onde haviam pessoas, empregados que eram simpáticos para ele, e filas e filas de corredores onde nenhum problema o apanhava.
Ele deixava-se perder nos corredores, no talho, a ver a televisão nova que mostrava os filmes mais recentes, a música de fundo da playlist do supermercado que não era actualizada à anos, tudo isto era umescape.
Pois quando se encontrava fora do supermercado, a vida voltava a assombrá-lo, medicamentos e preocupações, gritos no andar de cima, a solidão, o emprego estagnado, estar no supermercado era uma simples garantia de personaldiade não julgada pelo mundo.
E durante a semana sonhava em perder-se no supermercado, em fugir do mundo, perder-se na confortável apresentação da simplicidade, até se esquecer completamente.
Filas e carrinhos eram o sue mundo, o bip da máquina de registar a banda sonora da sua vida, os descontos os eventos, e a realidade parecia tão longe.


- Peter S.R

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